HOTELARIA EM RAIO X


O MENSAGEIRO: “Oba! O cara da Frontier chegou. Isso é sinônimo de uma boa gorjeta. A bagagem dele pesa pra burro. É como se ele trouxesse todos os cocos da Bahia dentro dela. Mas vale a pena o esforço. O que importa é o money”.
O HÓSPEDE: “Cheguei! Lá vem o mensageiro. Conheço aquele sorriso. É tão somente pela gorjeta que lhe dou. Da próxima vez vou encher todas as malas de cocos pra fazê-lo merecer cada centavo desse money que dou a ele”.
O RECEPCIONISTA: “Xi! Lá vem aquele homem. Espero que ele pegue a chave e suba rapidinho. Não estou com saco pra ficar ouvindo histórias de todos os santos. Ainda mais em dias e horas de agitação como esta”.
O HÓSPEDE: “Vixi! O moço da recepção ainda é aquele espinhento horroroso. Por que não remanejam aquela mocinha simpática da manhã para o horário dele? Hoje, além da história do ouro, começarei a contar-lhe sobre o Brasil, desde o desembarque de Pedro Álvares Cabral, até ao último escândalo do mensalão: mais de quinhentos anos de história. Vou torturá-lo até ele pedir uma transferência de horário”.
O GERENTE: “Ótimo! Aquele senhor joalheiro está de volta mais uma vez. Sinal de que ele está mesmo satisfeito com o nosso hotel e indicando-o pra mais pessoas. Em um mês, já vieram uns dez de seus amigos para cá. Tenho que ir até lá e cumprimentá-lo”.
O HÓSPEDE: “Demorou! Lá vem o gerente. Com certeza, vai apertar a minha mão. Está pensando que eu indico este hotel de graça. Desta vez, passo a exigir que ele me dê um bom desconto à título de comissão. Se ele desconversar, digo que nem eu voltarei mais aqui.”
O MENSAGEIRO: “Pronto! Lá vem aquele outro cara. Se ele estiver num dia bom, vai ser ótimo lidar com ele. Mas, se ele não tiver fechado um bom negócio nos seus folheados, é melhor que eu fique esperto. Ele é daqueles hóspedes que descarrega a sua desgraça toda em cima da gente. Como se o mensageiro fosse o culpado de tudo”.
O HÓSPEDE: “Ô loco, meu! O dia foi foda. Se tivesse um saco de pancadas por aqui, eu o debulharia. Olha a cara de assustado do mensageiro! O coitado pensa que eu vou perder tempo com ele. Já estou cansado de lambaris. Queria mesmo, era acabar com um tubarão. Daquele grandão. Cabeça chata.”
O RECEPCIONISTA: “Ai! Esse cara é chato que dói. Tem dia que ele chega todo nervosinho aqui, mas, na manhã seguinte acorda cantando a Bia aqui na recepção. É isso que dá a gente arrastar um caminhão por alguma colega do hotel. Corre um ti-ti-ti pelos bastidores, que a Bia ainda não saiu com ele só porque tem medo de perder o emprego”.
O HÓSPEDE: “Olha aí. Aí está o recepcionista mais esquisito que eu já vi em toda a minha vida. Ele nem desconfia, mas toda vez que eu saio com a Bia, ela pede pra eu não ficar espalhando, porque sou casado e pega mal. E ela diz que se esse Zé Mané aí ficar sabendo, ele é capaz de caguetá-la e ela poderá acabar sendo despedida. Outro coitado! Nem vale a pena dar uma canseira nele.”
O GERENTE: “Chegou! Chegou o estressado. Mais tarde ele sai com a Bia e ela dá um calmante pra ele. Eles pensam que eu não sei que eles saem às escondidas. Enganam-se. Aqui, somente o recepcionista é que ainda não sabe disso. Mas, isso é problema deles. Eu não tenho nada a ver com isso. O que importa pra mim, é que ele é o tipo do cliente corporativo que qualquer hotel quer”.
O HÓSPEDE: “A-hááá! Lá está o chefe. O fato de ele ser o gerente daqui, ainda não me seria o bastante. Mas, considerando que nem ele próprio sabe ao certo qual dos seus patrões é quem manda mais, vou abrir o jogo com ele mesmo sobre o meu caso com a Bia. Tenho que aproveitar hoje que estou num dia ‘bom’. E deixar bem claro que, se ela sofrer algum tipo de represália por causa desses detalhezinhos de menos, darei um jeito de mudar de hotel amanhã mesmo”.