A LEI DE GÉRSON


Leio matérias de um renomado jornalista correspondente internacional que faz relatos quase lendários.
Viajo constantemente pelo exterior a bordo das páginas literárias que me levam através de culturas de todos os continentes. Esse autor me chama a atenção para o que ele intitula: “Pequenas Coisas” do velho continente europeu. Diz ele que, pela manhã, tem o costume de deixar pequenas quantias em cédulas monetárias como gorjetas sobre o travesseiro, sobre a cômoda, próximo ao aparelho de telefone... Enfim, lugares bem visíveis, para as camareiras dos hotéis em que ele se hospeda. No fim do dia ele retorna e lá está o dinheiro no mesmo lugar. Ao avisar uma das camareiras sobre a sua intenção das gorjetas, esta respondeu que, ela até pensou mesmo que o dinheiro deixado ali fosse pra ela, mas, por via das dúvidas, achou melhor não mexer. Nisso, ele começou a deixar bilhetes em inglês junto com as cédulas insistindo de que se tratava de uma gorjeta. Da gorjeta, ele nunca esquecia. Porém, na correria do dia a dia, às vezes ele se esquecia de deixar o bilhete. Ao retornar, o dinheiro estava lá, no mesmo lugar. Era assim na França, Dinamarca, Espanha, Alemanha, Bélgica...
Em Yerevan, capital da Armênia, a população utiliza uma ponte como um extenso mercado imobiliário a céu aberto. As compras e vendas de imóveis são feitas na confiança da própria palavra: “Quando a Palavra Tem Valor”; eis o título. Claro, existem as burocracias cartoriais que são feitas ali mesmo em mesinhas espalhadas com corretores, carimbos e tudo... e fotos dos imóveis.
Um pouco mais adiante tem uma praça onde o comércio ao ar livre compõe-se de tapetes persas legítimos, ouro e joias finas; certificadas. Quando o comprador quer pechinchar, o comerciante oferece-lhe um tapete, por exemplo, de qualidade inferior fazendo comparações com o propósito de informar mostrando-lhe detalhes de que o acabamento daquele não é tão bem trabalhado como os demais. Lá, honestidade comercial é uma imutável questão de honra entre as partes.
Entre tantas outras quase inacreditáveis boas condutas, vale salientar que, este também é um país socialmente mergulhado em misérias e desemprego; adversidades que não são desculpas para que cada um zele pela individual honestidade. Que maravilha! Eu deveria viver, para sempre, num lugar assim. Respeitar e não temer ser enganado.
Por estes lados de cá, os gananciosos andam tão ocupados na prática da Lei de Gérson que nem lhes sobra tempo para se interessar por tais costumes longínquos. Se descobrirem que no mundo existem nações tão “tolas” assim (ser honesto por aqui é sinônimo de ser otário) iriam viver pelo menos alguns dias por lá: fazer fortuna e voltar pra cá; cheios de status: desfilar em importados sobre quatro rodas ostentando grifes e arrogância, contrariando os costumes dos tantos ricos e discretos ingleses, segundo o autor destas mesmas matérias.