UM CASO ABSORVENTE


Quando o ramal da recepção tocava, normalmente o alarme era de toques pausados. Teve um momento em que ele disparou. Atendi. E do apartamento, uma hóspede aflita:
— Moço, vocês têm absorvente aí?
— Tem o quê?
— Absorvente moço. Absorvente!
— Não. Não temos.
— Nada parecido? (talvez, ela quisesse dizer: um tampão).
— Não. Só temos barbeador, escova, pasta de dentes...
— Absorvente moço. Absorvente!
— Não. Não temos.
— Sabe de alguma farmácia que faz entrega aqui?
— Não. Aqui só entregam pizzas.
— Absorvente moço. Absorvente!
— Se preferir, eu ligo pra um táxi e transfiro aí. Daí é só pedir pra que o taxista lhe traga o absorvente.
— Não acredito! Terei que pagar um táxi só pra trazer um absorvente aqui?
Naqueles tempos, não havia tantos disk-entregas como há hoje em dia. O hotel localizava-se longe do centro e não havia nenhuma farmácia por perto. E sem alternativas, mesmo contrariada, a despreparada hóspede teve que aceitar a minha dica. A mala que ela transportava seus mostruários de anéis aramados era enorme. Será que não haveria espaço pra acomodar um pequeno absorvente?
Ao chegar a sua encomenda — um leve pacotinho de travesseirinhos sem abas — eu mesmo me encarreguei de entregar-lhe no seu apartamento e receber o dinheiro daquela compra e da corrida, para o taxista.
Bati na porta e ela gritou lá de dentro:
— Quem é?
— O absorvente.
— Quem?
— O absorvente, moça. O absorvente!