DIA DE FÚRIA


Bote a mulher para competir com o homem sobre produtos e acessórios femininos que andam em voga... Muitos dos homens não fariam mais feio, por não perder de goleada pra elas. No entanto, é bom lembrar que mesmo um magro placar de 1X0 sempre será vexatório para eles. Neste quesito, a mulher arruma um jeitinho de virar o jogo até quando sai em desvantagem.
TPM é um dos assuntos da moda. Não sejamos bobos de discutir com elas “nesses dias” quando ficam agressivamente mais espertas que qualquer tática masculina. 
Foi como no caso daquela hóspede que eu acho que estava nesse seu ciclo vazante. Somando esse impropério a mais um daqueles dias em que tudo dá errado, aquela mocinha já se encontrava a beira de um colapso nervoso, enquanto tentava ligar o seu Uno Mille preto quatro portas e o mesmo negava-se a dar partida. Por conta disso ela sentiu-se forçada a se humilhar voltando para o interior do hotel pedindo-nos mais auxílio, além de termos a ajudado com as pesadas bagagens — compostas por pronta-entregas de brincos, anéis, pulseiras, pingentes e companhia — após ter cometido o absurdo de ter nos mandado ir tomar naquele lugar achando que tínhamos culpa do sistema on-line não ter aceitado o crédito de seu cartão, obrigando-a, alternativamente, a pagar a sua diária em espécie.
Não entendendo absolutamente nada do problema mecânico ao qual nos deparamos, o máximo que pudemos fazer foi empurrar o carro até a esquina pra ver se pegava no tranco. Não pegou. O único jeito foi ela apelar pra um profissional delivery: mais despesa, mais ameaça de dureza e mais nervosismo, estampado à flor da pele — ela tinha a tatuagem de uma flor na nuca. Talvez, pra evitar que o mecânico inventasse mais um monte de defeitos no carro e isso a motivasse a bater nele, ela preferiu aguardar no lobby, de orçamento na mão.
Nisso, outro hóspede chegou com um Uno preto quatro portas e estacionou bem na porta do hotel. Enquanto este fazia o check-in, o mecânico entrou devolvendo a chave pra moça avisando ter concluído o serviço e que estava tudo OK.
Ela saiu, enfiou a chave no primeiro Uno preto quatro portas que avistou e, indignada, bradou:
— Era só o que me faltava. Agora é a porra desta porta que não abre.
Meteu um tapa na janela e um chute no para-lama do mesmo. O DONO do Uno, calmamente olhou por cima dos óculos, foi até lá e perguntou:
— Algum problema com o MEU carro, moça?
— SEU carro?? Oh, oh! É mesmo... O meu está lá na frente. Me desculpe, senhor. Desculpe-me!
Bastante sem graça, completamente sem jeito, ela notou que, indiscretamente a acompanhávamos com os nossos olhares de pena lá da porta do hotel. Ela não se intimidou. Também deu-nos uma rápida olhadinha e, como que querendo se explicar, antes de abrir o seu Uno, deu-lhe um tapa na janela. E um chute na porta.