RESPOSTAS FREQUENTES


A mulher de meia idade estava acompanhada de sua filha. Entrou no hotel triste, revoltosa. Alguém mais irreverente diria que ela andou lendo Lya Luft e/ ou Arnaldo Jabor. Com exceção de um dos recepcionistas, diríamos que se pudéssemos selecionar, seria mais prazeroso atender pessoas alegres, serenas. Já pra este tal recepcionista, isso seria de menos. Este, nem reparava em tais circunstâncias. Ele achava que qualquer pessoa estaria diariamente disposta a ouvir, entender e aceitar os nossos básicos termos técnicos ora descobertos e decorados em inglês.
— Você tem disponibilidade de vagas pra nós duas? — perguntou a mulher.
E ele; complicando:
— Dois single ou um double?
— O quê??
— Se for double só tenho o standard.
— Não quero saber de frescuras. Só quero um apartamento — bradou a mulher, cerrando as sobrancelhas.
Ao registrar-se ela procurou informar-se:
— Quer que eu deixe pago agora, ou amanhã, na saída?
— Fica a seu critério. Tanto faz no check-in ou no check-out.
Mais uma vez ela não entendeu patavina. Preferiu subir e procurar se relaxar a fazer mais alguma pergunta pra ele e ouvi-lo responder com meias palavras — ou palavra nenhuma.
Poucos meses depois este recepcionista saiu do hotel e retornou ao mercado de semijoias, com indícios de pioras. Incidências pelas quais ele seria sobrepujante, visto que já tinha uma considerável experiência nessa área. Não deu outra. Meses depois recebemos a sua visita ao hotel e alguém lhe perguntou:
— E então, como está se saindo no atual emprego?
E ele; complicando:
— Manusear metais em processo eletrolítico requer uma tecnicalidade de apurada precisão. Principalmente, em se tratando de elemento AT 40.
Achei que ele tinha inventado aquilo de improviso e, não menos interessante. Pedi-lhe para repetir que eu ia anotar. E não é que ele deu um repeteco, sem engasgar, com todas as letras? Fiquei perplexo. No entanto, ele deve ter uma explicação pra isso. É como aquele repórter esportivo de uma TV que disse que o Emerson Leão tinha defendido o gol do Palmeiras por doze anos na década de 70. Não sei como o repórter conseguiu enfiar doze anos numa década. Contudo, ele deve ter uma explicação pra essa conta enigmática também.
Oito anos mais tarde, eu entrava para o mesmo setor e ando tentando montar a frase quebra-cabeças do ex-recepcionista que andou banhando anéis, brincos, pulseiras e afins.