GRACINHA


Um auxiliar que atendia no hotel era muito “atencioso”. Bastava alguém lhe perguntar algo e as suas respostas vinham quase sempre parafraseadas de seu vocabulário muito particular.
Uma mulher — que eu nem sei o nome — chegou no hotel e foi-lhe dizendo:
— Tenho uma loja de bijuterias ali no quarteirão de baixo. Estive tentando ligar aqui e não consegui contato. O telefone daqui está com defeito?
— Depende — ele informou. — Quando a senhora ligava, ele dava sinal de chamada ou de ocupado?
— Sinal de chamada — ela respondeu.
— Então, tudo bem. Porque, se fosse sinal de ocupado é porque estaria ocupado mesmo — ele explicou.
— O casal do 110 ainda está aqui? — perguntou a mulher.
— Não. Esse casal já deu baixa e foi embora.
— Faz tempo que saíram?
— Eram sete e vinte e três, mais ou menos — respondeu ele, olhando para o seu relógio de pulso.
— Os dois saíram juntos?
— Sim. Ambos os dois.
A mulher — que talvez se chamasse Maria das Graças (ela tinha cara de Graça) — sorriu, olhou para o crachá dele e gravou o seu nome.
Numa manhã do mês seguinte ela retornou pessoalmente ao hotel:
— O Pedro está? — me perguntou.
Chamei o referido, e ele se apresentou, ouvindo a “Gracinha” lhe solicitar:
— Por gentileza, me reserve um apartamento para aquele mesmo casal que esteve aqui no mês passado. AMBOS OS DOIS chegarão hoje à tarde, por volta das SEIS E QUARENTA E QUATRO, MAIS OU MENOS, e vão DAR BAIXA amanhã de manhã.